sábado, 31 de janeiro de 2009

Apokatástasis Pánton (terceiro e obscuro sonho)

APOKATÁSTASIS PÁNTON
(O terceiro e decisivo Sonho)


0. Apokalypsi
Eis que, nada Acontece.

No decadente e resplandecente epítome de sua magnífica glória, os homens contemplaram seu auto-inculpável apocalipse quando a última gota de seiva escorrre ao chão e o último véu de seda é elevada aos céus. We are not responsible. Steal anything in sight.

O hímen da Babilônia reconstituído por cirurgia plástica, Azazel capturado numa quark nova mutante; Salvação, Glória, Honra e Poder, onde estão? Silêncio. O logos de crachá em sangue, e seus exércitos apocalípticos, capitulam.

O putch de meggido. A humanidade, confinada em um espaço horizontal delimitado que se estendia desde profundezas subterrâneas até alturas estratosféricas, no território geográfico ‘exato’ de Jerusalém (uma decisão considerada particularmente engraçada a um grupo armado de Carvalhos, que mal pôde conter o ébrio louvor vitorioso de seu ritual papavérico).

Nasce uma nova ordem: um sistema auto-sustentável de criogenia, indefinidamente perpetuável: cérebros ligados ao Inconsciente Coletivo, o Universo Perceptivo, um reflexo das profundezas inconscientes do computador supremo, Laylah, Aur Ain Soph – a grande alglutinadora de signos, a multiplicadora de peixes.

Cada um é tornado avatar de seu próprio Golem.
A Vida eterna virtual, a nulificação máxima das distancias, a Última Aurora Boreal da Civilização: nos forçada pelos piores e mais indignos orifícios imagináveis, abaixo.

Infelix culpa.

Como alguém já disse alguma vez: Il n’y a que l’inutilité du premier déluge qui empêche Dieu d’em envoyer un second; infelizmente, Kant o destronou. E o próximo não tardou a chegar. Uma volta do Adonai clássico, vingativo, infantil e macho pra caralho.

Desvendamos o arco-íris do trono celeste e o mar de cristal secou com o logos. Amém.

I. Thanatos

Not only there is no God, but try getting a plumber on weekends.

1. Peloponeso Sengoku

Cléon e Demóstenes partiam em ofensiva. A plebe clamava como os torcedores de um time de futebol em dia de final e a elite torcia o nariz para os tributos. Eia! À Tebas! Demóstes alia-se aos Tokugawa, invadindo com seus samurais pela Acarnânia, enquanto Nícias e os ninjas Iga de Hanzo, em frenesi, avançam à Tânagra. Derrota, Vitória e Retirada.

Brásidas não temeu. Tinha, pois, a seu lado, o destemido dokuganryu, Masamune Date, o dragão caolho; e, se não lhe bastasse, Herr Nobunaga. Alcebíades processado: cortaram o falo de Hermes, ele dizia, o que eu tenho com isso? Nobunaga riu-se, Brásidas o compreendia. Não há problema algum em se cortar o falo de Hermes, esses deuses servem apenas para desviar os cidadãos das verdadeiras virtudes! Mas eu não cortei falo algum, por Atena! Que seja, junte-se a nós, meu amigo. Quais os planos de seus acusadores? Ah, sim! Siracusa, você diz? Pois vamos todos pra lá, convoquemos Arquimedes, a festa será trismegística!

O verdadeiro patriota não é aquele que aceita injustamente perder sua pátria, mas aquele que faz de tudo para reconquistá-la, ainda que seja traindo-a! Os atenienses não o entenderam, a justiça de Alcebíades era mais complexa do que a da família Bush.

O sangue jorrava pra todos os lados, a putaria comia solta. Os navios democráticos atracaram na praia: muralhas! Hanzo utilizava técnicas de ninjutsu para forçá-las a ruírem, Masamune contava a história de como arrancou seu próprio olho enquanto ainda criança, como matou todas as famílias aliadas à dele, de como elas se desesperaram e raptaram seu pai, e como, finalmente, ele os matou holisticamente, a todos, como um todo, inclusive a seu pai;

Os exércitos de ambos os lados, sem nomes, trepando entre si, das partes helênicas, enquanto as partes nipônicas se refestelavam de saquê e bradavam ferozmente no karaokê. Tokugawa perde a paciência: invoca os panzers, como substitutos de seus arquebus (idéia, inclusive, mais do feitio do Oda; mas não era ele quem precisava botar os muros abaixo, e o tempo-espaço se dobra segundo os desígnios do onipotente quântico), tanta era sua fúria contra a incompetência dos 38,000 combatentes liderados por seu filho Hidetada que não conseguiam chegar à batalha, pois estavam ocupados demais contra os 2,000 do Sanada. Patético.

Entretanto, não há nada que um espartano não faça: não derrotaram, pois, o exército de Mordor nas mãos de Xerxes, com apenas 300 homens? Não, não derrotaram, é verdade. Mas fora tanta a glória que conseguiriam depois que os efeitos de tal causa posterior ecoavam até esta batalha atemporal. Post hoc ergo utopos hoc. Entre murros e pontapés, Pugnis calcibus, os espartanos destruíam em Furor Teutonicus os panzers da ofensiva ateniense. Mas o caos é terreno do Dragão Caolho.

- “Por que cortaste o falo do Ratatosk, maldito Alcebíades?”

- “Porque eu sou heterossexual, tolos!”

Horrorizados com tal possibilidade (o heterossexualismo), os atenienses tremeram. Nobunaga passa a catapultar cadáveres heterossexuais por sobre a ofensiva de Cléon, que temia a infecção mais do que a própria morte. Masamune ri como nunca. Retirada! Derrota! Começam a cruzar a Bifrost de volta pra casa; mas não é o fim para Hanzo, nem para Ieyasu. Ficaremos até a morte! Eternal Glory!

Invejosos e valhálicos, os exércitos de Cléon retornam à batalha. Ubi non sis qui fueris, non est cur velis vivere.

Brásidas e Cléon invocavam o direito medieval da justa: o clássico mano a mano, 1x1. Brásidas empunhando duas katanas, Cléon ostentando uma AK-47. La più bella e sanguinosa conquista della macchina è l’uomo. Tudo muito rápido, espadas dançando, balas desviadas pra todo lado, suas forças eram equivalentes. Alcebíades mete-se no meio contra ambos, arrependido de sua traição e ao mesmo tempo furioso com seus compatriotas. É Free-for-All, as equipes são subvertidas; os samurais logo percebem, e, bem familiarizados com isto, resolvem participar. Todos contra todos, Bellum omnium contra omnes, Só um sai vivo! Fiat iustitia et pereat mundus! Theosis!

Não foram poupadas cabeças nem falos, braços nem pernas, e em alguns minutos de guerra a Sicília tinha mais membros destacados do que conectados aos corpos; todos participavam. Até Trasímaco resolvera fazer uma aparição. Mais cabeças ao chão do que ao céu, como Baphomet haveria desejado. Pouco a pouco, os líderes caíam. Alcebíades vencera a neo-justa que iniciara, mandando Brásidas e Cléon para o Kirchhoff freiheit; depois, na tentativa de fugir, fora derrotado por Ieyasu, que o acusava de cristianismo. Alguns Hojo aparecem com Kutaro Fuma, decididos a tacar fogo no navio de Hanzo, mas não são bem sucedidos. Morre Ieyasu, e Masamune resolve ler alguns de seus versos para o shogun: perecem juntos. Etiam periere ruinae, Manu militari.

Decidiram por uma pausa.

Acenderam-se alguns cigarros, discutia-se política e futebol, comentava-se sobre a existência de Deus e da Verdade, do bom, do belo e do justo, da possibilidade do conhecimento a priori, se ele provinha da experiência ou não, porque a Vaca do panteão nórdico veio antes dos primeiros homens, e o que diabos queria dizer soteriologia.

Lapsus linguae, Homo homini alces.
Dii pedes argentum habent.

Não demorou muito para que a pausa se tornasse uma saturnália. Bebiam e praguejavam como templários, vomitavam e alucinavam como romanos. Bebiam, vomitavam, bebiam de novo, trepavam e vomitavam, depois fumavam, bebiam, vomitavam, trepavam e bebiam. Até que só vomitavam. Morreram, antes do amanhecer, como seria de se esperar.

First you take a drink, then the drink takes a drink, then the drink takes You.

Quatro, porém, sobreviveram ao porre: Nobunaga versus Demóstenes, Hanzo versus Arquimedes, batalhas sorteadas pelos dados (que os japoneses, logicamente, sacavam mais rápido e de mais bom grado do que suas espadas).

A primeira batalha foi facilmente vencida por Nobunaga, montado em Sleipnir. Não lhe bastasse essa vantagem, ostentava o também um Notung Light-Saber. Cortava e queimava, sem sangue algum sendo derramado.

L’extrême civilisation engendre l’extrême barbarie.

Na segunda batalha, Hanzo não parava de golpear Arquimedes, que corria para todos os lados, pensando antes de agir, estabelecendo conexões matemáticas e geométricas em um caderno enquanto desviava da katana de Hanzo. Em determinado momento, Arquimedes puxa uma corda e desce um pano que cobria seu soberbo engenho. Hanzo olha, e trata-se de uma parede enorme de espelhos convergentes canalizando, para um ponto minúsculo no meio de seu lobo frontal, todos os raios solares. Lobotomia no ninja. Arquimedes olha bem para Nobunaga, o olhar do Verdadeiro Gosu, e este, então, grita como uma patricinha quando vê uma barata. Corre com todas as suas forças, para bem longe. No caminho, porém, encontra seu castelo em chamas e Mitsuhide, que proclama que o está traindo. Desolado, Nobunaga comete seppuku.

A vitória é de Arquimedes, como seria de se esperar.

2. Batalha de Adrianópolis-Edfusalém

Depois de oitenta infindáveis anos de guerra, Rá, já tremendamente lamurioso por não ter escutado as sábias retro-memórias do posteriormente póstumo Brás Cubas, resolve mirar seus raios solares nos olhos dos combatentes de ambos os lados, alternadamente. O Abel caínico, Seth, observava prudentemente de longe – sem poder esconder o prazer advindo de um dia diferente após oitenta tediosos anos.

Neste dia, porém, estava ausente seu sobrinho: trabalhava minuciosamente, ao lado de Thot, Odin, Robert Fludd e Hipócrates, na tentativa de trazer seu falecido pai do reino dos mortos para terminar com a guerra, e, para tanto, restituindo-lhe o falo cortado por Seth, através de intervenção cirúrgica. Dr. House fora expulso do recinto minutos antes por insistir na necessidade de um MRI e um PET Scan para o procedimento.

Portanto, quem ocupou o lugar de Horus nesta distinta e garbosa Batalha de Edfusalém foi Godofredo de Bulhão, duque de Lorena. A seu lado prostraram-se Hugo de Vermandois, Raimundo de Saint-Gilles e Plínio Salgado. Em contrapartida, Boemundo e os normandos da Sicília, enfurecidos pela cartinha que lhes havia encaminhado, por e-mail, Loki, aliaram-se a Seth; pois o e-mail era a fotocópia por scanner do diário abiscoitado da própria filha do Imperador Aleixo I, contendo afrontas e calúnias sobre sua pessoa, chamada de perversa. “O normando é sujo, feio e malvado. É vil, pois é feio. O bom e o belo se confundem, e os feios querem roubar o império de papai”, ela dizia.

Papai, alias, impôs que toda a pilhagem da guerra viria para si – pois apesar de não lutar presentemente, havia enviado os seus para substituir Hórus (que não se importava com as pilhagens, desde que ensinassem técnicas melhores de cultivo a ele, para que pudesse ser aclamado pelo seu povo).

Ora, prescreve o Axioma Infalsificável dos Templários que o lado certo é o lado da pilhagem.

Seth, muitas vezes visto como puramente vil e insensato, não ensarcofagou seu irmão por pura sorte, não. Não havia sorte naqueles tempos, os Deuses tinham mais o que fazer além de jogar dados. Ele era astuto e sabia que a pilhagem livre atraia todo mundo. Sabia também que não custava nada invocar a Batalha de Adrianópolis, já que os normandos podiam muito bem aliar-se aos visigodos e ostrogodos sob sua liderança, para matar quarenta mil soldados e o imperador - pilhagens à vontade.

Marcharam, pois, por sobre o deserto, os nobres cruzados e os integralistas com o exército de Hórus, sob a liderança de Godofredo e, agora, do Imperador Valente e dos romanos, versus, Seth, normandos, visigodos e ostrogodos. Pela Igualdade, pela Liberdade, pela Fraternidade e, acima de tudo, pela Pilhagem.

Rá, depois de muita dor e sofrimento causar em ambos os lados (queimou os testículos de Seth, fulminou os bigodes de Plínio, mandou Loki pra longe, por não agüentar a temperatura do ambiente, obriga Boemundo a apresentar atestado médico de fotofobia, etc.), decide recolher a luz solar para trazer a noite, obrigando os combatentes a recolherem seus mortos.

Não mais havendo espaço para os corpos, e sendo proibido pela Lei Inefável daqueles espaço-tempos queimá-los, Seth resolve mutila-los e catapultar seus ossos contra Godofredo. Exoriare aliquis nostris ex ossibus ultos. Os visigodos e ostrogodos, não agüentando mais a libido explodindo por seus umbilicus telluricos neste ato de glória fálica, resolvem atacar às cegas, à noite. Theosis!

Em questão de segundos, a infantaria dos romanos arruína-se e vai fazer companhia a Osíris. A cavalaria afetada dos nobres é dizimada. É um massacre. Seth resolve dizer que é tamanha a sua glória que merece puxar o carro de Apolo, faz asas de cera para imitar as de Horus, e o resto vocês conhecem.

Death implies change and individuality; if thou be
THAT which hath no person, which is beyond the
Changing, even beyond changelessness, what has thou to do with death?

II. Bios

3. Gênesis

B'reshit era o Caos. O belo nothingness da escuridão.

Então a noite de asas de breu e a Neblina Niflheim, no regaço do profundo e negro Érebo Musspell,
Pariram Eros, que é Logos.

De Eros, brota o grande Nun Gelado – o Nilo Primordial, Ginnungagap adormecido.
Tetragrammaton, apercebido deste fenômeno natural, resolve, de Nun, criar o Céu e a Terra. E uma vaca titânica.

Da Terra nasce Yggdrasil, e dela, os filhos de Osíris, Ask e Embla. Eles matam o Logos, e, com ele, enterram Jeovah e o Amor.

Da terra fertilizada por tais Cadáveres, e pelo suor gelado de Ymir, alimento de Audhumla, surge Midgard.

Brota, lentamente, uma Lótus Branca, em meio ao caos da Nova Escuridão.
Dela, emana, numinosa, a luz do Despertar.

4. The Wake

“Whirl your whiskey around like blazes
Thanum an Dhul, do you think I'm dead?"

Pois estavam a enrolar em lençóis brancos os cadáveres das duas guerras e a prepará-los para a pira, doze dias após suas mortes, como manda a tradição. Maggie O'Connor e Mickey Maloney resolvem beber à glória de seus mortos que, sem dúvida, já estavam em Valhala. Gallons of whiskey at their feet and barrels of porter at their heads, procedamos ao sermão de honra.

O Sacerdote responsável pelo discurso de elogio aos mortos, Amenophis IV, afirma que os mortos estão a fazer companhia a Osíris. Alguns levantam em fúria e bradam “Valhala!” e outros gritam por Jeovah, Adonai, Alah, Hashem, Adoshem, Ehyeh-Asher-Ehyeh, El, Elohim, Shaddai, e o outro diz Rá, e então discutem se os mortos vão ao lado dos Deuses no Tédio Supremo ou se permanecem a lutar eternamente até o Ragnarok, e o caos se instala,

Shillelagh law was all the rage, and a row and a ruction soon began.

Sangue e whisky voando pelos ares, e o cuspe alcoólico dos vivos toca os lábios de dois finnegãos, mortos por acaso (provavelmente em fuga, escorregando e caindo de um muro, como a esta altura deve estar óbvio ao leitor atento).

Eis que dois se levantam, simultaneamente: Por Er! É o que dizem. Mas que horroroso pesadelo, diz o primeiro. Mas que belo sonho, diz o segundo. Olham-se, amam-se e odeiam-se a primeira vista. John Hylas chamou-se ao primeiro, George Philonous ao segundo.

Philonous: Pois estava pensando no destino daqueles que por uma ou outra razão pretendem não acreditar em coisa alguma; que buscam, ao longo de suas miseráveis vidas, o conhecimento - e acabam professando a ignorância de tudo.

Hylas: Eu, por minha vez, não sou cético. Nego tudo, mas não duvido de nada. São coisas diferentes. Se bem que eu ouça uma grandiosa multiplicidade de sons, não posso lhes ouvir a causa.

Philonous: Concordo. Existir é uma coisa, ser percepcionado é outra coisa.

Pois alguns disseram depois que não estavam mortos os finnegãos, é claro.

Propuseram, entretanto, explicações menos prováveis do que a ressurreição:
Um diz que os teoricamente falecidos eram TLEs (Temporal Lobe Epileptics), só pareciam estar mortos; o outro diz que como eles tomavam reserpina, os hormônios produzidos pelo stress da batalha os induziram ao coma, do qual, depois da avalanche hormonal, acordam.

Nonsense!, eu digo. Lex parsimoniae, a navalha de Occam, cortaria as cabeças ocas dessas proposiçoes antes de cortar a da Ressureição!
Segundo um, ordenaram distância e afirmaram ainda não estarem mortos; segundo os outros, pediram para que lhes tocassem os pés. A tradição escolheu um só.

III. Teletourgikos

5. A Iniciação

Começa, como todo e qualquer começo que seja arbitrariamente selecionado – o que engloba, portanto, o conjunto universal de todos os começos - , da forma errada. Certo seria, como muitos já apontaram ao longo da história da literatura, da pré-história da pseudo-literatura e da pseudo-história da pré-literatura, começar com uma música.

Começássemos por uma música, ela provavelmente seria uma longuíssima sinfonia dodecafônica punk-metal, embora essa provavelmente fosse a música errada. Porém, não; logo, o silêncio.

Poderia também começar com uma explosão monumentalmente relativa, ou com uma caixinha de fósforos (fiat lux? É uma piada imbecil e também a única que lhes entregarei de mãos beijadas, leitores imbecis e ingratos); infelizmente, esses começos são na verdade referências a começos, e não começos em si. Um dia, alguém acorda e inventa um começo. Grifa em baixo – começo. Mas o começo inventado é tudo menos um começo, é na verdade o resultado de um processo, um fim.

Todo começo é determinação, e na produção humana a determinação do começo é, portanto, um fim inescapável. Toda obra começa pelo fim. O que é um absurdo somente explicado pelo fato de que o logos morreu, e as palavras já não fazem mais o menor sentido. Ou que nunca tenham feito, e que o logos é um aborto não batizado vagando sem rumo pelo limbo.

Eis que nossos Heróis, caminhando alegremente e conversando sobre coisas frívolas e supérfluas, encontram um sujeito muito peculiar, grande, forte, e utilizando uma máscara dourada com um sol que cobria seu rosto por completo, incluindo os olhos e a boca, salvo por alguns buracos na altura da boca. Estava dirigindo a palavra a uma arvore:

- (...) portanto, o robocop é a re-encarnação do William Lee, que sobreviveu parcamente a uma overdose de bugpowder, thus, transformado num cyborg como a única salvação de seu Ser. Desolado com sua falta de possibilidades lúdicas (nem interzone, nem junk, nem seu gatinho), com sua impossibilidade de cometer atos sexuais impuros ou de casar-se com alguma mulher para matá-la e escrever um livro, alia-se às forças policiais com intuito de fuzilar os culpados e maltratar impunemente os inocentes. Eis a Verdade.

Voldo era seu nome: o tipo que saiu da caverna, trocou umas Idéias com A Justiça, pegou umas Ondas, fumou O Baseado e voltou; e, depois de alguns meses, se dá conta de que foi tudo uma viagem cósmica de LSD. Insatisfeito, consegue finalmente sair da caverna, manda todas as Idéias à Merda e olha direto pro sol. Volta pra caverna, obviamente, chorando, e cego. Esse é Voldo.

O momento já nasce morto, ele diria. Só nos resta a ficção. É Voldo que os eleva à condição de Homo literatus, e, portanto, que dá a luz à nossa Pequena e Gloriosa Epopéia Onírica.

6. A Conversão

Voldo fez uma fogueira, pediu que os dois se sentassem, tirou sua máscara solar – deixando à mostra seu rosto, indicando a solenidade do que estava para dizer (com a máscara mal se podia distinguir o que ele dizia, coisa que nunca lhe importou muito.

Agora lhes vou dizer algo muito importante. A Verdade.

Viddy well, lil’ brothers, viddy well. Éramos, nos tempos primevos, Deuses, com D maiúsculo. Não deixávamos os outros saberem nossos nomes, éramos Inefáveis, Inexoráveis, Eternos. Um belo dia, o Tegragrammaton, que ainda era uma criança, conseguiu convencer um povo inteiro do contrário. Tornou-se seu Deus ali, ainda como criança. É por isso que observamos, por exemplo, nos bons tempos da Torah, quão infantil e bestial ele aparenta ser. Odeia as mulheres, manda todo mundo ficar sacrificando filho, e depois diz que era pegadinha, expulsa as crianças de casa da primeira vez em que pintam a parede, e ainda coloca uma espada flamejante enorme na porta. Tão fálico quanto bestial e infantil.

Tanto que quando ficou pouco mais velho, mais sentimental e frouxo, até, parou de mandar apedrejar quem trabalhava no sabath e tudo mais. E o pior é que os Apócrifos da infância do Joshua batem perfeitamente com o ânimo do YHWH do primeiro livro do Tanakh. Um moleque pula nas costas dele, ele mata o coitado só pra depois o ressuscitar. See? Mas esse não é o ponto.

O ponto é que ele pouco a pouco convenceu os homens de que só ele era Deus. E que os outros eram somente deuses. E depois, que eram apenas homens. Não me admira, era realmente muito bom esse Adonai, sem dúvida. Mas apenas Deus como todos os outros. Não possuía mais Ser que eles, e tornou-os Pastores do Ser.

Hylas - Oh, Deus, mas que bela história. E que diferença isso nos faria agora, dentro de uma maldita novela pós-moderna que segue a aleatoriedade pós-quântica do desígnio de uma consciência coletiva virtual concentrada num cérebro feminino?

Mas é aí é que está meninos. You behold in me a horrible example of free thought. Vocês não entendem? Um mundo virtual é tão real quanto pode ser! A linguagem é diferente, sim, um funciona com 0s e 1s enquanto o outro em partículas quânticas. Mas zeros e uns também estão sujeitos as Leis do Universo, tanto quanto partículas quânticas, ainda que de forma tortuosamente reta, ou diretamente torta. A linguagem não interfere no Ser!

- Você tem um ponto. Give a man a mask and he’ll tell you the truth! Prossiga.

Ora. Não seria então possível, pois, que sejamos tão divinos quanto Auir ain Soph, Laylah?

- Por Deus, Hylas, o homem tem razão!

- Sim! É evidente! Eu, que por tanto tempo duvidei dos sentidos – via de tudo ofuscado através de uma espécie de lentes convergentes... mas eis que os óculos me foram tirados e entra-me pelo intelecto uma nova luz!

I’m a man of characters. Entendem o que digo?

- Mas é claro! Devemos caçar Laylah e assassiná-la!

Não, não. Não é isso, seus animais. Não... e de onde vocês tiram essas idéias estúpidas anyway? A conclusão é que devemos nos voltar a nossa condição primeva, de Deus! Deus factus est homo ut homo fíeret Deus!

Hylas - OK, faz sentido. Bom, não muito. Mas devíamos matá-la mesmo assim. George?

Philonous - Sim, todo o. Mas consultemos alguns oráculos, para ter certeza disso, está bem, John?

Hylas - Sim, me parece sensato.

Vão em frente, então, ignorant fools; shoot the bitch and write a book. Mas eu não tenho nada com isso, eu só quero ser Deus.
Vocês são dois pervertidos, é isso que são.



IV. Chrismos

7.

Hylas - Pois agora me explique, ó, Philonous, como é que há lugar na vossa mente para que lá existam todas estas arvores, todas estas casas. Como é que coisas extensas podem estar contidas no que é inextenso?

Philonous - Mas é justamente disto que estou falando, caro amigo. Isto prova a plena eqüitatividade entre os sistemas existenciais. Tudo pode ser representado em informações. O fato de que o cérebro, com sua linguagem neurológica interna, pode representar perfeitamente bem o mundo do lado de fora nos leva invariavelmente à conclusão de que o mundo é, de fato, representado como informação. Quer tenhamos ou não um Percepcionador supremo, sustentáculo formal e causa eficiente da realidade – e qualquer que seja esta realidade – sua causa formal não é material, mas virtual.

- Estamos divagando muito, caro irmão. Creio que devamos prosseguir.

Oráculo de Stageria

Proferem a frase de invocação: Permitirás que Atenas peque novamente contra a filosofia?

O oráculo diz:

- Admite-se que toda arte e toda investigação, assim como toda ação e escolha, tem em mira um bem qualquer. O Bem é aquilo a que todas as coisas tendem. Não seria menos insensato aceitar um raciocínio provável de um matemático do que exigir provas científicas de um retórico.

Ouve-se uma voz ao fundo: Nosso caminho parte dos princípios ou se dirige a eles?

Cala a boca, Aristocles. Volte à geometria.

Delos: Das coisas a melhor é a mais justa, e a melhor é a saúde. Mas a mais doce é alcançar ao que amamos.

Não há arte ou preceito que abranja todas as particularidades, mas as próprias pessoas atuantes devem considerar, em cada caso, o que é mais apropriado a cada ocasião.

Calipso: passa ao largo de tal ressaca e de tal surriada!

Por Anatólia, não era eu o maldito Oráculo por aqui?

- E aí, o que você acha John?

- Acho que é thumbs up.

- Mas a voz da Calipso está me pesando. Além do mais, essa história de Bem, e coisas tendendo ao Bem... não sei, eu diria que é thumbs down.

- Tens razão. É Nay, my brother.

8.

Oráculo de ikhtys

Hylas - George, o que você acha dessa tal força misteriosa que inventou Newton?

Philonous - Eu acho que a gravidade é o peso do Superego de Deus. E não de um Deus mesquinho e infantil, que não se importa em ser Justo e Verdadeiro. É claramente efeito de uma Força super-éguica uber-narcisista. Ela prova, portanto, o poder de ikhtys.

Hylas - E o que perguntaremos ao nabi?

Philonous - Que tal: se vierem me bater, a melhor forma de provar que a pessoa está errada é deixando ela me bater? E se ela for um fariseu?

Hylas - Te esqueces que o nazir essênio era também um Rabi fariseu. Caso contrário os próprios fariseus não o chamariam Rabi.

Philonous - Justamente por isso, John. Corre em suas veias O Sangue. Além do mais, quem sabe o que ele irá responder?

Invocam-no: Eli, Eli, lamá sabachtani?

Se vocês não mudarem, e permanecerem como crianças... Mas enfim, não vim para salvar os Justos. Estes não precisam de salvação. Nada está oculto, que não venha a ser revelado, nem tão secreto que não venha a se saber. O que digo a vocês nas trevas, digam na luz, e o que vocês ouvem ao pé do ouvido, proclamem sobre os telhados!

Philonous - Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Que quem veja, não veja! Somos terra boa! Vele-nos e revele-nos, Qatal, Lataq, Epifania!

Silêncio! Não vim trazer Shalom, mas a Spathi! Só os violentos conquistam o Reino de YHWH, que se adquire à força. Ah, o sabor da Vendeta. Sinto o que buscam: o julgado e condenado, volta, julga e condena. Katadiki, Sotiria, Achanes!

Hylas - Eu pensei que ele não falasse grego.

Philonous - Não falava, quântica é foda.

Se a luz que tens em ti são trevas, como não vão ser as próprias trevas?

- É isso, ele fala de Laylah!

- Thumbs up!

- Aye!

9.

Oráculo da Portokali

Hylas - Mas e quanto àquela sua idéia absurda e cética da inexistência da realidade material? Você ainda sustenta ela, querido irmão?

Philonous - Absurda e cética? Quisera eu que nossas opiniões a respeito da realidade fossem submetidas ao vulgo – ao homem comum, ainda não corrompido pela abominável lavagem cerebral da erudição; que lhes perguntassem o que acham mais razoável: ser a matéria ou o espírito a causa ‘material’ da realidade. Pertenço à casta da gente comum, bastante simples para acreditar nos sentidos e deixar as coisas como as encontra.

Hylas - ...

Philonous - Duvidas? Pois este cérebro de que falas, sendo como é, uma coisa sensível, não tem existência senão na mente; te parece razoável que uma idéia, que só na mente existe, seja justamente a causa das idéias? Além dos espíritos, tudo o que conhecemos são as nossas idéias.

Hylas – Então Azrael é mais real que a minha geladeira. O ponto é que ainda não estou tão certo de confiar o futuro da nossa empreitada a um velho montado num cavalo com uma lança, e que não tem um olho.

Philonous - Imbecil. Primeiro que foi só o esquerdo, e depois, ele o trocou pelo conhecimento da fonte de Mímir. Isso conta. Não vamos pedir pra ele escolher nossas esposas, afinal de contas.

Hylas - Não seria melhor pedir conselho para aquele outro lá... o cabeludinho que se fantasiou de Freya pra recuperar o Mjolnir.

Philonous - Claro que não. Qualquer gigante meia boca deixa ele se borrando com meia dúzia de ilusões.

Hylas - Bom, enfim. E o que vamos lhe perguntar?

Philonous - Não acho que faria diferença. Vamos invocá-lo e ver no que dá.

- Bom. E como nós o invocamos?

- Acho que não tem entrada de invocação, tem que invocar com blóta.exe. O bom e velho sacrifício humano.

- Que horror. De quem então? Só tem nós dois aqui.

Cai uma lança dos céus, finca-se ao chão.

- O seu, é claro. Eu consigo te reviver até o próximo Oráculo. Você provavelmente me deletaria do lixo, seu animal. Besides, Nous é imortal.

Blóta.exe : Hylas

Eu, o mais poderoso de Aesir, filho de Bestla e Borr, que derrotei Ymir com meus irmãos, não tenho porque dividir meu conhecimento com vocês. Minha resposta é mais óbvia do que seria a de Ares.

- Vamos te trazer o Ragnarok e o Sr. Não nos dá nada?

Bom. Se você, quando reviver seu amigo, arrancar-lhe o olho esquerdo pelas idiotices que disse, eu lhes dou um presente.

- Tem minha palavra.

Não é tão simples assim. Temos que selar o Pacto com Sangue.

- Como?

Eu o revivo e você arranca seu olho esquerdo. E então, o presente é vosso.

Restaurar arquivo: Hylas

- John, me desculpa. Mas é pelo nosso bem.

- O que? Alias, o que estamos fazendo aqui ainda? Porque o velho está aqui?

O próprio Oráculo lhe arranca o olho esquerdo com a lança. Pacto selado. Quando o olho tocou o chão, transformou-se num frasco antiqüíssimo, porém, adesivado.

Lia-se: God's Tears (active principle: gosunol) are known to stimulate the creation of artificial synapses directly in the brain, which can emulate the effects of every psychogenic drug known to man, usually together, and without direct physical harm. Such a groundbreaking abuse drug is thought to be a gift from God himself, hence the name, for God hath wept after such marvellous creation.

Philonous - Acho que tudo correu bem, foi um pequeno preço a ser pago.

Hylas - Isso é porque não foi você quem foi deletado, restaurado e depois perdeu um olho.

Philonous - Eu o teria feito, de livre e espontânea vontade, não fosse minha natureza incorpórea, lil’ brother.

Hylas - Filho da puta.

10.

Meta-Oráculo

- O que será que nos aguarda desta vez, brother sir?

- Sinto algo inesperado.

Queridos leitores, eis que chegamos ao Oráculo intermediário na jornada de nossos heróis. Por um lado, sinto o peso da responsabilidade sobre meus ombros, e, por outro, não vejo outra opção oracular superior a esta, para glorificar o centro, ao qual todas as coisas tendem por natureza, desta palhaçada.

Mas basta com isto. Estou aqui para dar meu parecer. Serei mais objetivo com vocês, queridos filhos, John Hylas e George Philonous. Porém, reivindico desde já o direito oracular do parecer tendencioso. Está bem para vocês?

Philonous - Temos opção?

Creio que não, infelizmente.

Hylas - Bom, then go ahead.

Nay.

Hylas - Isso não me parece bom. Mas enfim, um Oráculo é Um oráculo. Não mais que isso.

Philonous - Devíamos hermeneutizar o veredicto?

Hylas - Nay é Nay, George.

11.

Oráculo de Yaqui

- Creio que precisamos de algo... diferente.

- Como o que? Zoofilia?

- Não, lil’ brother. Me refiro aos Oráculos.

- Eu tenho uma boa idéia. Permite-me, brother sir?

- Com prazer.

- Lophophora williamsii, Datura inoxia, Psilocybina!

Vocês estão atormentados por problemas.

Hylas - Somos apenas homens, Dom.

Pensam demais em si mesmos. Isso os leva a fechar o mundo em torno de si, agarrando-se a argumentos. Também sou apenas um homem e não digo isso do mesmo jeito que vocês.

Philonous - Como é que você diz?

Venci meus problemas. Vocês precisam aprender a Ver, não só olhar. Quais são suas predileções?

- Eu gosto de dançar.

Bom, Sacateca, bom. Dance.

(De pé, com a planta do pé esquerdo servindo de apoio, sua mão cai, imóvel, estranha. Cruza o direito atrás do calcanhar esquerdo e o bate no chão ritmicamente, de forma suave. Philonous se sente desconfortável com isso, vira as costas, e se afasta, fazendo com que o Oráculo risse deliciosamente).

Uma vez, o pequeno Carlos removeu um inseto rastejante que julgou indo em tal direção, e colocou-o adiante, como que o ajudando dentro do que supôs que ele estava fazendo. Repreendi-o por ter interferido em algo que não entendia, e ele fez menção de colocá-lo de volta. Isto está também estaria completamente errado.

Apenas lhes digo que nenhum Nagual conseguiria vencer esta batalha sem a ajuda de seu Tonal.

Hylas - Nay? Mais um? Precisamos de alguém mais lúdico da próxima vez, George.

12.

Oráculo Nu

Philonous - À ponta do garfo, caro Hylas. Nossa jornada nos conduz inexoravelmente à verdade nua.

Hylas - We see God through our assholes in the flash bulb of orgasm. The way OUT is the way IN.

Philonous - That’s the spirit. Mas vai ser difícil arrancar deste o que queremos. The Dead and The Junky don’t care. They are Inscrutable.

Hylas - Podemos oferecer a ele um pouco de God’s Tears. Não se lembra do que disse? If God made anything better, he kept it for himself. Está aqui, conosco, o produto ideal. No sales talk necessary. Não venderemos nosso produto ao consumidor, mas nosso consumidor ao produto.

Philonous - We do not improve and simplify our merchandise. We degrade and simplify our client. We pay our staff in Junk.

Derrubam algumas gotas no asfalto, em gesto de oferenda.

Invocam-no: I can feel the heat closing in.

I Must report virtual absence of cerebral event.

- Temos algo que vos fará bem, Lee. Beba Isto.

I, William Seward, captain of this lushed up hash-head subway, will quell the Loch Ness monster with rotenone and cowboy the white whale. I will reduce Satan to Automatic Obedience, and sublimate subsidiary fiends! I will banish the candiru from you swimming pools!
Wouldn’t you?

- Glória.

Shoot the bitch and write a book, that’s what I did.

- Aye!


Hylas – Mas é foda isso. Você nunca pode saber que vai morrer; só porque a tia de um cara morreu, isto não quer dizer que eu vá morrer. É sempre assim; você duvida da morte, alguém aparece com a infalível prova da tia. Mas eu sou um homem do senso comum, não acredito nestes impropérios. E é o problema da indução, é só alguém estar vivo que está provado que ele não necessariamente tem que morrer.

13.

O Sétimo Oráculo

[Caminham, nossos heróis, ao longo do rio Liffey]

Hylas - Ótimo! Já foram todos os mais importantes, temos informação suficiente, vamos em frente. Theosis!

Philonous - Espere lá, Hylas. Fomos buscar auxílio dos Great Old Ones pra saber se devíamos ou não empreender nossa busca. Lembre-se das palavras do mestre Voldo, a verdade não é uma puta num leilão. E para jogar com os Grandes, temos que seguir suas regras. Isso implica em um sétimo Oráculo.

Hylas - Qual será então, meu irmão?

Philonous - Não sei. Alguma idéia?

Hylas - Podemos confiar no poder da aleatoriedade, fazer a invocação da primeira coisa que vier a nossas mentes, e ver o que este Oráculo nos diz. Não lhe parece adequado?

Philonous - Run, river, run!

Riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth Castle and Environs.

- Entendeste algo, George?

- Beer, beef, business, bibles, bulldogs, battleships, buggery and Bishops! Not a word, brother sir!

- Então fica decidido que nada foi decidido! Isso nos deixa com... 1,2,3 thumbs up, e... 3 thumbs down

- Estamos danados! Que o inferno caia sobre nós, Hylas, We are Doomed! Nunca vamos entender o que significa este Sétimo Oráculo!

...

- Meu caro, é aí que você se engana! Veja, agora tudo fica claro. Este oráculo é inválido. Nós é que somos O Sétimo Oráculo! Não empreendemos toda essa missão para tornarmo-nos Deuses?

- Eu achei que a tínhamos empreendido pra matar a vadia.

- Sim, eu também. Mas agora vejo, fazia tudo parte de um Plano! Você estava certo, temos de respeitar a regra do jogo; por isso, no caminho de tornarmo-nos Deus, Um com o Universo, necessariamente precisamos nos proclamar O Sétimo Oráculo!

- Tens razão, lil’ brother. E o que diz o nosso veredicto?

- Não se lembra? Nosso Julgamento foi o de matá-la! Esta foi nossa escolha, desde o início, e o nosso Voto é o que desempata! Não fica tudo claro agora?

- Perfeitamente! Theosis!

V. Katadikazo

Boa noite, caríssimos leitores! Estamos aqui esta noite, com convidados especiais, para discutir sobre o futuro de nossos heróis, já tão queridos por vós.

A platéia vibra, as cortinas balançam e entra o primeiro convidado: Um samurai imponente, com tanta cara de samurai que se poderia dizer terem os outros samurais a cara dele. Niten Doraku, Myamoto Musachi, O Invencível.

- Boa Noite

Boa noite Musachi. Fiquei grato que não se incomodou em ser poupado da primeira batalha e tudo mais.

- Sim, eu entendo perfeitamente, não haveria graça. Além do mais, eu apreciei o fato de que Arquimedes ganhou. Fez muito sentido.

Obrigado, obrigado. Conosco, o próximo convidado especial, o Negro Bode Pantafálico, Shub-Niggurath!!

A platéia vai ao delírio, e entra uma criatura monumental, aparentemente de madeira, com centenas de tentáculos de bode, negra como a noite, e com exatamente mil pequenos Niggurathzinhos acompanhando-a; presumivelmente, sua prole. Ela grita:

- Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn

Meu Lovecraftês está um pouco enferrujado, mas creio que ela quis dizer “Eu sou mais poderosa que o Cthulhu, e muito mais amedrontadora, vai tomar no seu cú” ou alguma coisa assim.

Abrem-se as cortinas, e entra agora um mago franzino, com corpo de sprinter, fugindo de um baú, com muitos dentes e aparentemente indestrutível, que deu medo até em Niggurath. Ela balbucia algumas palavras para o mago, dando a entender que sabe que foi ele que fez algo, e que pegaria ele na saída. Chamou-o de Rincewind, mas eu não o conheço. Ele mostrou-se preocupado demais pra responder alguma coisa que fizesse sentido.

Entra, em seguida, um homem de calças pretas, coladas, sem camisa. Cabelos longos, extremamente forte e com cara de quem queria morrer durante alguma batalha épica, mas levando o máximo de inimigos com ele.

- É o Deus Metal! - grita a platéia.

Pergunto-lhes genericamente o que esperam dos nossos heróis. Musachi observa que, desrespeitando todo o código samurai, não poderiam ser bem sucedidos. O Deus metal observa que o código samurai é bom, porque os samurais usam espadas, matam gente e possuem cabelo comprido. Conclui que os samurais vão pra Valhala, e que é isso que importa no fim das contas. Peço-lhes que voltem ao assunto. Musachi afirma que não saiu do assunto, e ameaça-me com sua espada. Peço desculpas, e o Deus Metal questiona que diabos de história é esta em que tornar-se Um com o Universo não é trepar.

Entram outros convidados ilustres: Karl Popper, Richard Dawkins e um Alce! Por favor, sentem-se. Popper começa elogiando a beleza de uma metáfora de Mundo 1 + Mundo 2 versus Mundo 3, e Dawkins observa que as Mêmes são o Mundo 3, e que tudo aqui é Mundo 3 versus Mundo 3, inclusive eles dois, e que a unidade da seleção natural é o gene. Observa também que quando descobriram que os morcegos utilizavam sistemas avançados de engenharia naval, não acreditaram.

Depois, passam todos a discutir o Theo-Solipsismo Quântico dentro do campo da Soteriologia, pois a partir do momento em que só você Existe e todos são fruto da sua Imaginação, você Pode tudo, não sujeito a lei alguma que você não tenha criado, ao mesmo tempo em que nada é de responsabilidade sua, pois os outros foram criados justamente para delegação de responsabilidades. Por outro lado, surge a perspectiva do Anti-Solipsismo como delegação absoluta de responsabilidade muito mais fácil, pois se todos Existem menos você, mero produto do Mundo 3, da Imaginação Coletiva, tudo é responsabilidade alheia e, de quebra, você se torna o mais importante do Universo por ser o único imaginado, a Idéia Artística que Sustenta o Mundo.

Sem mais enrolação - The time has come:


Hylas e Philonous chegam à sala de Laylah, sem a mais remota idéia do que fazer, pois não haviam pensado em planejar esta parte. Começam a discutir, instintivamente:

Philonous - Começo a concordar com aquela sua idéia de que só se pode confiar nos testemunho dos sentidos. O problema é que realmente, os sentidos não validam quase nada.

Hylas - Pois finalmente! Por que é infinitamente mais estranho sustentar que algo puramente inerte possui a capacidade de atuar sobre a mente e que qualquer coisa que não percepcione possa ser a causa das percepções.

Olham-se. Ela não está lá, e eles encontram rapidamente o Inconsciente Coletivo, um computador, e digitam no prompt de comandos: FORMAT C:/

Não funciona. Malditos sistemas operacionais modernos e aleijados.

DIR

Várias opções. Escolhem a última:

Deus ex Machina.exe

Laylah sai do banho, por detrás das cortinas de um palco, de toalhas pretas, magnífica. Ri, deleitando-se ao mesmo tempo com a insolência e com a ignorância de seus visitantes. Uma máquina gigante desce-a, para o nível da platéia, e ela dirige o olhar aos dois. Um alçapão abre do chão, e caem, ambos, na câmara do esquecimento, devorados pelo Cthulhu, que não tanto os mataria quanto provavelmente os eliminaria de toda a totalidade dos mundos. Ele os removeria do jogo.

Eis que, Nada acontece.

E soa a voz de um sábio italiano ao fundo: “Pochi si rendono conto che la loro morte coinciderà com la fine dell’universo”.

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Sobre como falhei novamente e decidi tornar-me um investigador [7/2/2209]

Indo em direção à realidade acabei abraçando o mundo dos sonhos. E que sonho enorme, ininteligível e tedioso. Sinto vossa dor, caros leitores. Aqueles que leram tudo isso não merecem senão escárnio, e aplausos a vós que vieram direto para cá. Mas talvez seja esta a verdade. Seja como for, não importa. O que importa é o que eu desejo: desvelar.

E foi assim que, falhando novamente, acabei como investigador da verdade. Contarei agora alguns destes casos.

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