sábado, 31 de janeiro de 2009

Considerações finais

Não confundam isto com uma obra, minhas ingênuas crianças. Isto é o oposto de uma obra. Alguns dizem que o desobramento a verdadeira obra, mas a mim soa mal toda esta coisa. Ou talvez cheire mal só. Enfim, isto não é nada, não serve para nada, não presta para nada. É ‘perda’ do seu tempo. Puramente.

E, se há algum conselho que posso lhes dar, seria este: vivam uma vida miserável e sofram tanto quanto puderem; tomem riscos contra suas chances, falhem e não se arrependam. É melhor ser uma aberração em um mundo de sonâmbulos do que o caolho rei entre os cegos. Não estou falando de aproveitar cada dia, estou falando de estilo. De viver uma vida bela, uma vida propriamente dita. De viver com estilo.

Principalmente, não se esqueçam: seios e drogas andam lado a lado meus queridos. E não há quantidade de dinheiro, sucesso ou felicidade que supere um bom par de seios e uma caralhada infinita de drogas.
Vivam uma vida, vivam literatura, não a estrada em direção a alguma coisa que vocês nem sabem se querem. Se a estrada for uma merda de estrada, pulem fora e caminhem em direção ao deserto: e que se foda. A morte é absolutamente neutra, é o próprio neutro ele mesmo, da perspectiva do morto. E, em vida, enquanto serve para acovardar uns e exaltar outros, ainda que provoque lágrimas e sofrimento mas talvez não bem exatamente por isto, ela é nossa melhor conselheira. Este é o melhor conselho que meu pai já me deu: tenha a morte como sua melhor conselheira. Não teria coragem de começar a contar quantas vezes eu já re-entendi este conselho. Não é o meu conselho, é o conselho de um xamã; mas um conselho inestimável.

O meu talvez seria: entre não entender e entender há um intervalo ínfimo quando comparamos ao seu primeiro ‘entendimento’ a quinta vez que você entendeu essa mesma coisa. Se isso nunca acontece com vocês, vocês já estão mortos e não lhes contaram.

Durmam bem, minhas crianças. E sempre tenham um caderno à cabeceira para anotar seus sonhos assim que acordarem. Podem castrar nossa bela insanidade, fazer de nossa vida um pesadelo ambulante, mas ninguém pode tirar de vocês, nem uma ciência judia da psique, a força dos seus sonhos.

E que quem tenha entendido por ‘sonhos’ as fantasias de sucesso, fama e riqueza que os sonâmbulos adoram proliferar em filmes e seriados - e não ‘apenas’, e literalmente, o reino dos sonhos, que receba a primeira pedra e seja executado em praça pública.

Com amor, de seu futuro ou talvez jamais pai

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